sábado, 9 de janeiro de 2016

Porquê o horror

Gosto de filmes de terror não apenas porque gosto de cinema, mas porque o terror consegue verdadeiramente unir o espectador ao ecrã, já que o primeiro chega a desleixar necessidades fisiológicas tipo xixi (eu sabia que rapidamente isto ia descambar para a escatologia - pimba, logo na primeira frase) para não perder o que se está a passar. Prova maior do efeito que o cinema tem numa pessoa, não conheço.

Depois, porque o cinema de terror facilmente se presta a mensagens políticas e subtextos activistas, embora não o pareça (aka Night of the Living Dead); tanto serve conservadorismos de direita como a sublevações de esquerda, e eu tendo a gostar bastante da arte que se presta a leituras e mensagens políticas (haverá arte em que isto não aconteça?).

Em terceiro lugar, o já muito referenciado "efeito catártico" que qualquer assíduo espectador de cabeças e entranhas de zombie a voar até à lente da câmara conhece e aprecia.Há uma sensação de alívio final (ou não...) que é muito satisfatória.

Há igualmente uma faceta de entusiasmo quase infantil nos filmes de terror, que incluem quase sempre cenas dinâmicas, de um gore de gosto discutível e que apelam à mesma excitação com que vimos o Indiana Jones sentado a uma mesa em que se serviam baratas grelhadas e miolos de macaco, o que me leva à próxima observação - a proximidade entre o terror e a comédia. Tive a sorte de ver "The Woman in Black", uma peça de terror, há pouco tempo (também há o filme, com o Harry Potter no papel principal, mas não tem grande piada) e o mais interessante foi constatar como as pessoas gritavam em uníssono, assustadas, para depois se desmancharem a rir com a figura que faziam. Foi um espectáculo dentro do próprio espectáculo que, como dizem os comentadores de futebol, foi "muito bonito". Se pensarmos, porém, em filmes de terror propriamente ditos, temos o insuperável Evil Dead, tão grotesco, amador e brilhante que se fica sem saber se aquilo é para rir ou para chorar - e mesmo assim, fica-se com medo. O próprio Exorcista tem momentos risíveis - quando o demónio está amarrado à cama, furioso, e pede ao padre para o desatar dizendo, naquela voz rouca de bagaço, "now, kindly, undo these ropes".Esta cena em particular faz-me sempre rir.

De modo que, como não tenho com quem falar sobre isto, falo para aqui. Obrigada pela atenção. 

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