terça-feira, 19 de janeiro de 2016

The Babadook (2014, Jennifer Kent, Austrália) - spoilers!

Em primeiro lugar, ocorre-me dizer que  O Babadook é um filme bonito. Acho que é bonito porque lida com a relação entre uma mãe e o seu filho, que saem vitoriosos no fim, e eu gosto disso.

O filme é convenientemente assustador (não me assustei muito porque o vi de dia, mas é convenientemente assustador, reitero) e  visualmente segue todos os "standards" dos filmes de terror (casa grande, cinzenta, escura e feia; tempo sempre nublado; muito sangue, cuspidelas, sujidade, agressões físicas; monstrengo desfigurado e que apenas emite sons roufenhos e malévolos, enfim, o normal); trata da relação de uma mãe, que perdeu o marido e pai do filho num acidente de carro, com o seu filho de seis anos. A relação não é fácil - a mãe está enredada numa depressão nunca diagnosticada (foi o que me pareceu), o filho está convencido de que vê um monstro que lhes quer fazer mal e determina que vai proteger a mãe; esta última tem um emprego provavelmente mal pago num lar de idosos quando antes, quando o marido ainda estava vivo, escrevia livros para crianças.

Bom. Acontece que o monstro, o tal grande e horrível Babadook, é real e agora a mãe e o pequenote têm de se livrar dele, e há aqui uma série de interpretações possíveis, todas elas fazendo sentido - diz-se que o Babadook é no fundo a encarnação diabólica do luto e da dor quando são mal resolvidos e se acumulam na nossa cabeça; ou a representação do horror que é a doença mental, principalmente quando não é tratada. A mim pareceu-me tudo isso, mas fundamentalmente a questão pareceu-me ser a de que o mal, das coisas que podem voltar para nos atacar, serem sempre uma constante na nossa vida e temos de saber lidar com isso. Não vale a pena esconder debaixo do tapete. A vida nunca será perfeita, mas convém encará-la de frente e tentar resolver o que há a resolver, de outro modo é uma bola de cotão que se acumula na cabeça e que nos assombra como o Babadook. Assim, este último acaba por ficar preso na cave e a mãe vai lá de vez em quando acalmá-lo e dar-lhe de comer - mas não o nega nem finge que não existe.

Há também um tema interessante no filme, que é o facto de a mãe ser na verdade uma mãe solteira (é viúva, mas está a criar o filho sozinha), com muito pouco apoio, e que tem ainda de lidar com os olhares condescendentes e de falsa pena das outras pessoas, o que acaba por exarcerbar o desespero da mãe ao ter de lidar, sozinha, com o filho, com monstros, com a vida em geral.

De modo que é um filme interessante e que se vê bem.

Moral: a cabeça, como as casas, precisa de ser arejada e limpa de vez em quando. Quando se deixa cotão nos cantos porque se tem preguiça ou incapacidade para varrer, o cotão cresce e transforma-se num grande e horrível monstro que nos devora.

Momentos altos: o miudinho a combater a mãe, possuída pelo monstro, para depois a salvar


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